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quero te mostrar a cósmica magia de   Dala  e  U.

 

Dala, tarefa dada pelo Mistério

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Dala tem atmosfera de epopeia, mitologia e filosofia, vazada, óbvia e intencionalmente, numa linguagem um tanto ou quanto pomposa, arcaica, no sentido de resgate ancestral. E uma linguagem também visceralmente poética. Ou quase totalmente poética.

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É a jornada interior (tão igual e tão diferente de tantas outras) do jovem poeta U., numa fase de extrema debilidade física, afetiva e existencial, na noite de seu aniversário. E essa noite culmina em visões mágicas, através das quais ele é alçado até a órbita do próprio planeta, e lá é acolhido pela magia da deusa-mulher Dala, personificação do planeta Terra.

Desdenhoso do mundo, por seus desencantos, mal alimentado, desgarrado de um ofício e de um projeto de vida, unicamente movido por uma visceral e egocêntrica busca interior, U. mergulha num encontro erótico, mítico e cósmico, horas antes de completar vinte e sete anos.

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U. é a sede do Absoluto, do Espírito, do Transcendente em sua vida. E é a radical recusa do mundo e do cotidiano das pessoas, exatamente por não perceber neles o espaço do Divino. Tão embriagado dessa sede e dessa recusa, e desse desprezo, tão desgastado pelo vaivém de sua tarefa de poeta, num mundo excessivamente prosaico, medíocre, que um processo de ruptura torna-se-lhe inevitável.

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Mas, ao acolhê-lo, Dala revela-se também como tarefa, a tarefa de permitir e cuidar de tudo aquilo que cresce e vive no seu corpo, do seu corpo, principalmente da criatura que carrega a centelha do divino – o ente humano, exatamente aquele a quem U. ignora, despreza, e chama de alma plastificada.

Dala não tem certeza absoluta da legitimidade ou não de sua mítica e cósmica tarefa, que, inclusive, não é explicitamente reconhecida ou admirada pelos seus irmãos e irmãs - os demais astros. Talvez, no futuro, venha até mesmo a ser condenada por eles, por ter chamado para si tão singular tarefa – a de ter ofertado a vida e a história a criaturas tão enigmáticas, e potencialmente perigosas para o próprio Cosmos.

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Dala leva U. ao passado, e lhe confessa que já recebeu, ao longo dos séculos, inúmeros visitantes exigentes e desvairados como ele, os seus poetas-amantes, como ela diz. E que a todos eles mostrou a estupenda grandiosidade do Cosmos, o sem-fim do espaço e de seus trilhares de habitantes, em seu insondável Mistério.

 Após todos esses longos passeios pelo Tempo e pelo Universo, Dala exibe aos seus visitantes, já não tão exigentes, a visão e a narrativa da sua própria história física e ontológica. E por fim oferta, aos seus agora poetas-amantes, a esperada e vibrátil acolhida em seus seios e cavidades, e em suas vias lácteas mais íntimas e secretas.

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Faz o mesmo com U.. Ela lhe ensina que, ao permitir e convidar as visitas de poetas desvairados, assim como ele, ela cumpre a sua tarefa de curar, ou suavizar, as feridas abertas pela excessiva fome de Absoluto que os moveu até ela; para que, após, eles desçam de volta purificados, tanto da descrença quanta da fome excessiva de Absoluto; e assim aprendam a se alimentar serenamente daquilo que ela lhes oferta dia a dia, cá embaixo, no mundo das gentes. E deixem de lado o seu desdém pelo ente humano.

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E para que eles cumpram a sua tarefa de alimentar o Verbo, de ajudar a iluminar o cotidiano dos viventes que, no entender dela, apenas aparentemente ignoram o Espírito, ou recusam o Transcendente. E, nessa modesta aceitação da tarefa, eles, poetas, estarão alimentando e amparando também a ela, Dala, fonte e permissão para todos os viventes. E estarão alimentando também o Espírito, o Absoluto, o Sagrado, fonte do Verbo, da própria Dala e fonte de todas as criaturas, de todos os entes, humanos ou não.

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E, por fim ela convence aos seus poetas-amantes de sua tarefa maior nestes tempos perigosos: a tarefa de colocar a sua palavra a serviço da Revoluçao Planetária, da destruição do Ocidente, que foi outrora revolucionário, e hoje apenas obsoleto e perigoso. E nessa destruição-superação, estarão contribuindo para que os Filhos de Dala convivam mais de perto, e de forma mais constante, com o Ser e o Sagrado, tal como pregava o poeta-filósofo Heidegger, quando a visitou em companhia de seu amigo Holdërlin. Uma superação do Inferno da Técnica, que leve os Filhos de Dala de volta ao Simples e aos caminhos do Campo, ou aos caminhos de Dala.

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Esses visitantes entendem e aceitam a fala e o os apelos de Dala, e cumprem a sua tarefa de persistir, criar, alimentar o Verbo e combater o decadente Ocidente. Com exceção de um ou outro, tal como o fulgurante Rimbaud, que tudo decidiu abandonar, ou o suicidoce vidente Celan, que consigo próprio decidiu acabar.

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Dala mostra aos seus poetas-amantes que, na renúncia à posse do Absoluto, não há a perda do conhecimento verdadeiro, ou perda da comunhão privilegiada com o Mistério. Pois ela própria é também busca do Sentido, mas uma busca que aprendeu a aceitar os desígnios do Começo, a aceitar o Mistério. Que aprendeu que o próprio Mistério somente pode se cumprir enquanto Mistério, e que isso é o que o Mistério espera dela: se foi dada a tarefa, nem por isso foi dada a certeza ou clareza.

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U. , desvairado cometa humano

 

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U. não se compromete com a espécie de redenção, proposta por Dala, e sabiamente aceita pelos poetas visitantes e amantes antes dele. A redenção e o combate ao odioso Ocidente podem até acontecer, caso ele sobreviva à sua jornada particular, mas não aceita que esse seja o seu principal ímpeto.

Para ele, Dala é o passaporte que lhe permitirá ter acesso a si próprio. Na arrogância advinda de seu cansaço, U. já não crê na possibilidade de um Sentido que possa ser doado, encontrado, em nada que advenha do humano, de Dala ou do próprio Divino: ele precisa sentir a sua fuga, ou sua libertação, para o espaço sideral como definitiva, ele não quer preservar nenhum espaço para um resgate, para um possível reencontro após o seu retorno; na verdade ele nem sequer cogita num retorno ao mundo ou ao próprio existir.

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Pois, se passasse aquela noite amparado pela certeza do retorno, então não estaria havendo ruptura, ousadia, verdadeiro conhecimento; não pode se contentar com o fascínio do alimento, até mesmo amoroso, que a presença de Dala oferta. Quer apenas se alimentar de si mesmo, erigir-se como seu próprio fundamento, e para isso algo lhe diz que ele deve ir até o final, custe o custar, ou melhor, até os inícios, até a hipotética repetição do momento de seu nascimento.

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Como se sente traído, ou enganado pelo Absoluto, pelo fato de o Divino ter-lhe dado uma tarefa inútil, impotente em meio aos Filhos de Dala, U. já não crê na força ou no sentido desse Absoluto; como se o próprio Divino fosse também Absurdo, também impotente para se fazer verdadeiramente presente nas suas criaturas mais privilegiadas, que deveriam ser um testemunho do próprio Espírito.

Se tudo é caos e acaso, o próprio Criador não sendo capaz de explicar-se ou manifestar-se como Sentido, como força ordenadora, então que U. tenha ao menos acesso ao caos e acaso, que vigoravam no Cosmos no momento de seu nascimento, vinte e sete anos antes.

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Ele exige que Dala o lance no meio do Cosmos no exato momento em que a conjunção astral se repetir. Para ele, o fato de presenciar, de beber dessa conjunção dos astros que, teoricamente, se repetiria todo ano, no exato instante do nascimento de cada um, também não guarda nenhum momento revelador, mas ao menos a oportunidade de reencontrar-se com seu fundamento causal, físico.

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Já que não há amparo ou sentido no Divino ou no Transcendente, já que para U. não há mais verdadeiramente o que transcender, a não ser a si próprio, que ele possa ao menos experimentar o turbilhão daquilo que é físico: a terrível viagem em companhia dos elementos; para que, a partir daí, ele mesmo possa conduzir e conduzir-se na sua viagem, e que nessa viagem lhe seja ofertado tudo o que de direito: os confins do espaço, com suas cores e formas fabulosas, as mitologias, palavras, os êxtases, os anjos e demônios, até mesmo a própria Eternidade. Que ele possa experimentar, em si próprio e para si próprio, tudo o que o Absoluto, tudo o que Espírito experimentou.

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E, desdenhando a fala corajosa e serena de Dala, nem se satisfazendo com sua presença amorosa e erótica, e também ignorando os seus alertas, U. insiste em ir até o início de tudo, exige de Dala a passagem para o Mistério, o conhecimento absoluto, a experiência total, exige dela o êxtase final e definitivo, mesmo que isso se dê ao preço da loucura, da morte ou da imobilidade existencial - a morte em vida.

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A título informativo. Escrevi o Dala nos exatos 28 dias do fevereiro de 1991. Parecia que eu estava possuído pela Voz. Foi um verdadeiro tempo fora do tempo, aqueles dias em que servi de instrumento para o jorrar, do ente-novela chamado Dala, em meio ao Ser e ao Tempo.

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Tenho oito obras escritas, a nona em processo de conclusão. Esta é a primeira a ser divulgada. Estou começando a publicar em época tardia. Mas o que importa é a gratificante sensação de que estão sendo lançadas para conhecimento, e eventual comunhão com leitores e leitoras. Torço para.

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De toda forma sou apaixonado pelo que escrevo. Pelos personagens e cenas e descrições que fiz brotar. Escreve-se para a Voz, para si próprio e para o leitor ou leitora, não necessariamente nessa ordem de importância. Mas, se o leitor, na sua soberana decisão ou escolha, não acolheu a obra tal como o autor espera ou gostaria, não importa.

Pelo menos para mim, não importa tanto. Como disse, sou um fervoroso apaixonado pela minha própria obra. Claro que se houver encontros e vivências com os leitores e leitoras será um puro êxtase, será uma espécie de redenção. Senão...

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Quanto à Voz, a terceira interessada, ela não está nem aí para o autor nem para o leitor. O que ela espera, ou exige, é que se cumpra o Verbo que ela determina e tal como ela determina. Voz e Verbo que, por sua vez, são puros desígnios do Mistério. Como tudo, aliás. Como a própria, fulgurante, magnética e apaixonante Dala. Como o próprio, amargurado, desistente e arrogante U.. 

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Boa, e espero, gratificante leitura. E também espero que me dê a oportunidade de um novo encontro, ou comunhão.

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