
M O S A I C O S
V i t ó r i a
A título de intróito
Sinto-me na obrigação de repetir, neste segundo Mosaicos, uns dois ou três parágrafos da Introdução que fiz no primeiro. Embora pareça cansativo ou desnecessário, é importante para quem não leu o primeiro Mosaicos. Seguem os parágrafos:
“Meu nome é N., sou de Vitória do Espírito Santo. Fui convocado pela Voz para registrar o existir de Maurício, de sua infância, na região de Cataguases, Zona da Mata de Minas, até o quase (?) trágico desfecho de sua vida, em minha cidade. Serão cerca de cinquenta anos a serem registrados. E é obvio que não os relatarei na íntegra.
Talvez a convocação da Voz tenha chegado até mim a pedido do próprio Maurício, talvez através do grande Lázaro, de Ouro Preto ou, nada mais nada menos, através do tão decantado mestre González, singularíssima pessoa. Não sei, tudo ainda é meio obscuro. E nem eu insisti em desvendar a origem desse interessante pedido.”
*
Mas também existem esclarecimentos e informações novas, necessários para guiar os leitores neste segundo Mosaicos. Um primeiro detalhe. Aqui, todas as histórias são de minha autoria, enquanto lá no primeiro livro eu escrevi apenas a estória de Maurício. E todas elas se passam em Vitória e no entorno da capital.
E o dado mais importante. O previsível, ou o lógico, seria que eu desse, logo de início, continuidade à história de Maurício, após ter contado um pouco de sua vida, cerca de cento e cinquenta páginas, lá em Minas – em Cataguases, Ipatinga e Belo Horizonte.
Mas, como já dito, quem convoca e quem decide a ordem da escritura é a Voz, mesmo que tenhamos a suposta impressão de absoluto domínio da escrita. E, assim, este Mosaicos simplesmente se esquece de Maurício e apresenta diversas personagens e estórias de Vitória, antes dele.
Maurício, propriamente dito, aparece somente ao final; na verdade aprece um pouco antes, quando narro a estória de Marçal, o cáustico, professor, cadeirante e líder da célula do PCO em Vitória. Maurício manterá intensas relações revolucionárias e de amizade com o professor, até mesmo pela quase inacreditável parecença de suas perdas afetivas e eróticas, Marina, companheira de Marçal, e Mariane, companheira de Maurício. Até mesmo nos nomes dos dais casais, a parecença. Maurício é também bastante mencionado na estória de Aninha, que simplesmente o deseja e o idolatra até o paroxismo.
Diante do inesperado aparecimento dessas estórias, de fato não havia como a Voz sussurrar, de outra forma, aos meus ouvidos e à minha consciência, a estrutura a ser montada. Seria por demais confuso e cansativo começar a contar a história de Maurício, desde a sua partida de Belo Horizonte – quando encerramos o Mosaicos anterior – e a sua entrada em Vitória, até chegar, ou voltar, ao momento em que travou contato com tantas pessoas: Aninha, Nildo, o professor Marçal e, claro, Mariane, somente para citar alguns.
Além disso, no momento em encontramos Maurício, já ao fim de sua passagem por Vitória, tivemos que abordar o seu desastre financeiro, afetivo e emocional; o seu naufrágio quase (?) fatal, que, ao fim e ao cabo, é o centro, o foco de meus registros.
Na verdade, eu já comecei a escrever sobre a sua chegada, seus primeiros anos no Fórum de Vitória, sua militância política com o PT, o MST e as associações de moradores de Vitória, suas primeiras terapias com psicólogos e psiquiatras. Dá bem umas sessenta páginas. Mas tive que parar, esses escritos somente terão continuidade no próximo Mosaicos, que, espero, seja o último.
Então, assim ficamos. Daremos um salto no futuro, criaremos um lapso, entre a chegada de Maurício e a sua já quase partida de Vitória – se de volta para Minas, ou para o Nada, ainda não mo disseram.
Se fosse de outra forma, quebraria o clima, por óbvio, e assim ficou mais leve. A Voz sabe ser implacável, mas também impecável e elegante.
*
Ainda a propósito do terceiro Mosaicos, e acerca do lapso a ser preenchido sobre Maurício. Não haverá apenas a minha pessoa como narrador. Terei a agradável e numerosa companhia dos amigos do grupo de Viçosa, liderados por espanhol González. A tão esperada visita deles a Vitória, para estreitar relações com o grupo do professor Marçal – laços brevemente mencionados no primeiro livro – finalmente ocorrerá. Parece que terei também a companhia da sempre agradável Leila e da doce Tâmara. Lázaro me informou que elas estiveram em Viçosa, fizeram muitas amizades, principalmente e se integraram ao MPO. E, conforme narrei brevemente, haverá um reencontro entre Leila e Maurício, cerca de vinte anos depois.
Parece que cada um desses amigos de Minas narrará, em primeira pessoa, as suas próprias vivências, suas impressões e seus envolvimentos com pessoas e acontecimentos, durante a visita a Vitória, e isso já durante a viagem, em plenas estradas. Um grupo sairá de Viçosa, outro Belo Horizonte e outro de Juiz de Fora e Cataguases. Será uma verdadeira sinfonia verbal, ouvi falar numa comitiva de quinze a vinte pessoas, rumando para a minha cidade. O MPO em peso. Será uma festa. Espera-se que o inferno vivido por Maurício, já iniciado neste segundo Mosaicos, não estrague essa festa.
Bom, ao menos essa Introdução não foi tão longa e intrincada quanto a do primeiro livro. Alvíssaras!
E, para tentar clarear um pouco esses intrincados Mosaicos, decidi incluir nesta apresentação o Índice deste livro. Espero que de fato ajude.
ÍNDICE
Nildo. 8
Mara. 33
Serafim e a Flor Azul 40
Óculos novos. 45
A gostosa Aninha. 73
O cáustico Marçal - 100
01 – O Canal do Marçal. 101
02 – Marçal e Marina. 104
03 – Maurício e Mariane. 109
04 – O fim de Nildo e Mara. 110
05 – As redentoras viagens 114
06 – As amigáveis viagens 118
07 – O fim de Marina e Marçal 123
08 - As perdas ainda perduravam.. 130
09 – As diatribes de Marçal 134
10 – A cura pela Transcendência. 144
11 – A casinha do Cocó. 155
12 – Um spoiler sobre Maurício. 158
13 – A querela do Barulho. 161
14 – De querelantes a companheiros 168
O difícil Maurício, Vitória - 175
01 - O escuro túnel do day trade. 176
02 – Mariane e sua quase fatal negativa. 181
03 – As viagens, a venda, a saída. 186
04 – Abandono, nova derrocada. 190
05 – Alimentar a Revolução com o estrume. 193
06 – Um pouco da queda quase final 196
07 – Um domingo na periferia. 201
08 – Um grato retorno a Heidegger 209
09 – Um pouco de jogos e piruetas verbais 213
10 – O retorno ao buteco. 216
11 – De volta a Jardim da Penha. 220
12 – Uma conversa a la González e Helena. 225
13 – Novos afetos, novos erotismos 232
14 – A título de apressada conclusão. 242
15 – Sabotagem, rosários de suspeitas 250
16 – Uma longa conversa a la Lázaro e González. 268
17 – Das gracelezas das gêmeas. 310