
ratos e ratões
tão antigos quanto mundo
uma fábula suja
que os ratos naturais
não se irritem com a metáfora
e também riam das ridículas ratazanas
'ricas'
Esta é uma fábula, talvez bastante pesada para alguns, já que transforma homens em ratos. Afinal, até aonde vai o nosso direito de julgar moralmente as pessoas dentro do capitalismo, sendo que aquilo que molda as pessoas aquilo são, em grande medida, as engrenagens e as estruturas econômicas e de poder, e não uma escolha delas próprias. Os revolucionários marxistas já nos ensinaram que o julgamento deve ser político e não moral, coletivo e não individual.
Está até mesmo em bíblias: "Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar pedra nela", João, capítulo 8, versículo 7. O Cristo e a sua amiga Madalena.
Mas a fábula é também um retrato bastante fiel, exatamente acerca das relações de poder no dia a dia do capitalismo, e fábula livremente inspirada em acontecimentos reais.
O narrador Lázaro viaja, de Belo Horizonte para uma fictícia cidade do interior de São Paulo, que não à-toa tem o nome de Dentópolis, a cidade comandada pelos ratos, “a cidade dos entes dementes e de dentes doentes”.
Lázaro vai por dois motivos. Primeiro, para fugir um pouco da tensa e metafísica atmosfera, na qual estivera envolvido, por ter participado, junto com Ilídio, como sentinelas, da noite do delirante aniversário do poeta U., um amigo em comum dele e de Ilídio.
U. consegue, nada mais nada menos, do que se elevar até a órbita do planeta e, em companhia de Dala (a Terra personificada em mulher-deusa) viver uma noite cósmico-erótica, simplesmente mágica, com direito a idas e vindas através do tempo e do espaço sideral, desde o Big-Bang até os dias atuais.
A narrativa que U. faz, de sua noite com Dala, abala Lázaro fortemente. Por isso vai em busca de uma realidade menos metafísica, para poder narrar algo mais terreno.
Vai investigar e relatar a Batalha da Distribuidora, ocorrida entre ratos e humanos, em Dentópolis, da qual Lázaro ficou sabendo através de González, um filósofo espanhol, radicado no Brasil, uma espécie de guru literário e político, em torno do qual eles orbitam – Lázaro, U., Ilídio, Olavo, Helena, Juvenal, Jandira. Todos esses são personagens que fazem parte de outras obras minhas, as quais serão publicadas em breve.
Este é o segundo motivo de sua ida: atender exatamente ao pedido de González. Além de ser amigo dos humanos da Distribuidora, quando morara em Dentópolis, González queria uma narrativa que servisse de arma de propaganda para o movimento político que estava articulando, o MPO – Movimento Parar o Ocidente.
Lázaro faz então suas investigações acerca dos detalhes da Batalha, mostrando os bastidores das articulações dos ratos e ratúmanos, e apresenta seu relato ao espanhol. Ao final, há a despedida deles, com os antigos e os novos amigos de Dentópolis. E há um relato bem extenso e vibrante, que Lázaro faz de sua íntima noite de despedida com Denise, adolescente que ele conheceu logo no seu primeiro dia em Dentópolis.
*
Depois disso, os três seguirão para Passa-Quatro, cidade onde González também morou. Passearão por várias cidades do sul de Minas, em terras mantiqueiras. Sempre acompanhado de Major Aloísio, ex-militar com postura de esquerda, e ferrenho defensor do MPO.
Aliás, enquanto revê amigos, o espanhol também fará suas articulações com eles em relação ao MPO; inclusive contará com o apoio do companheiro Zé Dirceu, que, em minha ficção, também é amigo de González e estará recolhido em Passa-Quatro (sua cidade natal), descrente da melancia política, mas que ganhará um sopro de renovação com as idéias de González.
Mas essa é uma outra estória, que está no meu nono livro, o Passa-Ouro.